Foi ainda na década
de 80, faz muito tempo mesmo, que fizemos uma incursão à
cidade do Serro, em Minas Gerais, na fantástica companhia de
Lucílio e Leyla. Como lembrança desta nossa visita
recebemos de presente o livro de Tom e Thereza Maia, com texto
de Miguel Lins, cuja capa está aí ao lado. O Serro é
a origem mais remota que conhecemos da família Pereira de
Carmélia e Carmencita, e possivelmente dos Prado de Nelson Luiz. Terra do
bravo Gomes Carneiro, que deu nome à rua onde morei alguns
anos em Ipanema. Mas, principalmente, é a terra de juristas
como Edmundo Lins e Pedro Lessa, dos Nelson de Sena, dos Ottoni, de
João Pinheiro e do professor Aurélio Pires. Todos fazendo parte daquelas chamadas famílias
governamentais de Minas, como escreveu Cid Rebelo Horta.
A cidade é
pequena, mas com relíquias respeitáveis. Tenho aqui na
parede uma enorme foto da casa da Chácara do Barão
do Serro, que é como chamam a uma mansão senhorial
do século XIX hoje bem preservada, e que pertenceu à
família Ferreira Rabelo. Esta foto me foi dada por meu irmão
mais velho, encantado com o entusiasmo que demonstrei ao voltar do
Serro pela primeira vez.
O serrano Joaquim
Felício dos Santos (1828-1895) escreveu o livro Memórias
do Distrito Diamantino da Comarca do Serro Frio, que
é um relato minucioso da exploração do diamante
e do ouro na época colonial. Mas que comarca era essa? Em 1778
existiam quatro comarcas nas Minas Gerais: Vila Rica, Sabará,
Serro Frio e Rio das Mortes. A comarca do Serro Frio era enorme, com
sede no Serro (antiga Lavras Velhas), e incluía o distrito
diamantino, vales do Jequitinhonha e Mucuri, até o limite com
a capitania da Bahia e Goiás (inclusive as Minas Novas).
Estariam incluídos, por exemplo, os atuais municípios
de Bocaiúva, Diamantina, Montes Claros, Rio Pardo, Grão
Mogol, Minas Novas, Salinas, Capelinha, Teófilo Otoni,
Peçanha, Guanhães, Araçuaí e Januária,
entre outros.
O
livro sobre a Vila do Príncipe mostra várias atrações
do Serro, além do famoso queijo do Serro.
São desenhos de Tom Maia a bico de pena, de grande
sensibilidade artística. Por exemplo, são mostrados:
uma vista do Serro desde o Bota-Vira ou Pau-Comeu, a Praça
João Pinheiro (antiga Cavalhada), Igreja do Carmo, os sobrados
da Rua da Cavalhada, Beco da Purificação, Solar do
Barão de Diamantina, Matriz de Nossa Senhora da Conceição,
Rua Direita, Igreja de Matosinhos e casa dos Ottoni, Igreja de Santa
Rita (com sua escadaria), Rua do Corte. E muitos outros desenhos.
Vale a pena conhecer.
Tom
e Thereza são também autores de um elenco enorme de
livros que retratam cidades antigas no Brasil e em Portugal.
Agora
queria falar um pouco do texto primoroso de Miguel Lins (Miguel
Monteiro de Barros Lins, advogado e jornalista), nascido em Belo Horizonte,
morador no Rio de Janeiro (falecido em 1995), mas com muitas raízes
serranas. Ele descreveu, com rara inspiração, como o
espírito mineiro permeia tudo o que se refere ao Serro e a
seus habitantes. E como este espírito difere das outras
regiões brasileiras por sua singularidade de isolacionismo
desde os tempos coloniais. Segundo uma definição
atribuída a Afonso Arinos de Melo Franco, “ser mineiro é
ter uma enorme paciência com o resto do Brasil”. Transcrevo
do livro de Miguel Lins este parágrafo, que assino embaixo.
“Por
mais que se tenham projetado fora de Minas, em todo o Brasil, os
mineiros conservam um apego especial à cidade natal, ao berço
inesquecido. É a vocação municipalista, a que
se referiu Ângelo Oswaldo, que saiu de Paris para uma visita
diretamente a Conceição do Mato Dentro e ao Serro do
Frio. A opulência arquitetônica da Europa não
ofuscou seus olhos a ponto de não ver a beleza da chácara
do barão do Serro, que ele considera das construções
mais lindas que o século passado deixou em Minas. E contudo
está vazia, abandonada. Segundo o arquiteto Sylvio de
Vasconcellos, a casa do barão do Serro é exemplar
indispensável ao estudo da arquitetura mineira: descansado,
amplo, bem situado no terreno e cercado de jardins e pomares
extensos que, infelizmente, não se conservaram
integralmente”.
Chácara do Barão do Serro (foto Wikimedia Commons) |
O
Serro do Frio é mencionado algumas vezes no romance Sabará 18, cuja história se passa no século XVIII (daí provavelmente o nome), encontrado
aqui em nossa Livraria Virtual.
Quer ler um pouco mais sobre famílias mineiras, e suas relações com portugueses, italianos, paulistas e baianos?
"O meu pai era paulista
Meu avô, pernambucano
O meu bisavô, mineiro
Meu tataravô, baiano
Meu maestro soberano
Foi Antonio Brasileiro"
Quer ler um pouco mais sobre famílias mineiras, e suas relações com portugueses, italianos, paulistas e baianos?
"O meu pai era paulista
Meu avô, pernambucano
O meu bisavô, mineiro
Meu tataravô, baiano
Meu maestro soberano
Foi Antonio Brasileiro"
(Chico Buarque)
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