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  Há muitos anos, parando no Cupim (BR040 - Conselheiro Lafaiete - MG) para reabastecer, comprei uma garrafa de cachaça, puríssima, arrolhada com sabugo de milho, o que me pareceu naquela época um verdadeiro atestado de autenticidade da legítima cachaça artesanal mineira. Numa segunda vez resolvi indagar do funcionário se o alambique era ali mesmo nos fundos, ou em alguma centenária fazenda nas proximidades. Respondeu-me, para minha estupefação, que a cachaça vinha de São Paulo.

  Pois agora, pelas mãos da bisneta Corina, conheci a história (que eu desconhecia) do Conselheiro Lafayette Rodrigues Pereira, nascido na antiga Queluz de Minas e que deu o nome atual da cidade. E que também empresta o seu nome ao Fórum Lafayette de Belo Horizonte, por cuja rua Goiás passei outro dia. Jurista, político, escritor, advogado, embaixador, sucessor de Machado de Assis na cadeira 23 da ABL. O livro primoroso escrito pelas professoras Maria Auxiliadora, Lígia Maria e pelo professor Paulo Roberto, mostra o cenário da política da fase final do Império. Lafayette foi Presidente do Conselho de Ministros, por insistência de D. Pedro II, de quem se tornou amigo e a quem acompanhou no exílio em Paris, embora o perseguisse a vida inteira o fato de ter assinado um manifesto republicano. Era amigo de Gaspar Silveira Martins, que dá o nome à rua onde morou por muitos anos o meu saudoso amigo Alfredo Gonçalves, no bairro carioca do Catete. Dizem que Deodoro decidiu-se finalmente pela proclamação da república quando circulou o boato de que Silveira Martins, seu desafeto, seria convidado a substituir o Visconde de Ouro Preto na chefia do governo imperial. O filho mais velho de Lafayette casou-se com uma filha de Silveira Martins. Lafayette, com trinta e poucos anos, foi presidente das Províncias do Maranhão e Ceará, dando-lhe uma enorme experiência administrativa. E lá, particularmente, dedicou-se a estruturar a área da educação, tão carente até hoje.

  Morou na Chácara da Gávea, uma enorme propriedade situada na atual Rua Marquês de São Vicente, onde estão hoje o Colégio Teresiano e uma parte dos terrenos da PUC. Foi considerado por muitos, inclusive por Rui Barbosa, o maior jurisconsulto do Brasil. Assim também se referiu a ele Paulo Brossard, em sessão comemorativa no Congresso.

  Foi amigo e admirador de Machado de Assis, tendo escrito um terrível libelo contra o que considerou grave injustiça de Silvio Romero contra o patrono da Academia Brasileira de Letras.

  E chamou-me a atenção a intensa correspondência, em todas as fases de sua vida, com o irmão Washington, que permanecia fiel à velha Queluz, tomando conta da Fazenda dos Macacos, que fora do pai deles, e um permanente refúgio para Lafayette nas horas aflitas. Lembrei-me na mesma hora de meu irmão, na Fazenda do Barreiro, lá em Bocaiuva-MG.

(31 de dezembro de 2015, desejando a todos um 2016 sem maiores sobressaltos)


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