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Uma pesquisa do SAPO Labs e a Universidade de Lisboa, divulgada em 2013, nos diz que Tabacaria de Álvaro de Campos (heterônimo) é o poema mais citado de Fernando Pessoa nas diferentes redes sociais. Constato, então, que até nisso eu sou a média da mídia. Este é também o meu poema preferido da enorme lavra do poeta. Portanto, paciência. Sou obrigado a transcrever aqui um pouquinho. E a ilustração ao lado é a reprodução de um quadro pintado pelo artista plástico e escritor português Almada Negreiros (1893-1970), que faz parte do acervo do Museu da Cidade, Lisboa.



"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida."


(3 de outubro de 2013)

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