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Esta história já dura mais de setenta anos e sobre ela permanecem ainda muitas dúvidas. Dois dos maiores expoentes da Física no século XX, Niels Bohr e Werner Heisenberg, tiveram um encontro (que na realidade foram três eventos) em Copenhague em 1941 e um assunto crucial veio à baila - a bomba nuclear. Bohr, dinamarquês, era o chefe do prestigiado Instituto de Copenhague dedicado à ciência e cujos trabalhos contribuíram enormemente para o conhecimento da física quântica, Prêmio Nobel de 1922. Heisenberg, alemão, Prêmio Nobel de 1932, enunciou o famoso Princípio da Incerteza, foi um dos mais brilhantes orientados de Bohr, e um dos poucos físicos de renome mundial que decidiram permanecer na Alemanha nazista. Eram muito amigos, havia uma admiração recíproca, e segundo diversos relatos continuaram amigos após o término da guerra.

Existem muitas versões para este encontro, dramatizado na peça de enorme sucesso de autoria do inglês Michael Frayn, com apenas três personagens: Bohr, Heisenberg e Margrethe (esposa de Bohr), que voltam a se encontrar após a morte. A peça começa com uma indagação fundamental: por que Heisenberg foi a Copenhague em 1941?
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Niels Bohr (1885-1962)

Werner Heisenberg (1901-1976) 
Este, após o término da Segunda Guerra Mundial, deu vários depoimentos nos quais tentou explicar que seu objetivo teria sido assegurar aos futuros aliados (os Estados Unidos ainda não haviam formalmente entrado em guerra), através de Bohr, que a Alemanha não teria um artefato nuclear porque os físicos que trabalhavam no projeto não queriam que isto acontecesse, e que eles deveriam fazer o mesmo. O entendimento de Bohr foi outro. 

Heisenberg,  em conversa com os membros do Instituto, disse que tudo levava a crer que a Alemanha iria ganhar a guerra a curto prazo, e por isso o Instituto deveria se incorporar às pesquisas alemãs. Bohr entendeu, de suas conversas privadas, que Heisenberg estava lhe dizendo, em forma cifrada para evitar ser detetado pela Gestapo, de que era possível à Alemanha construir um artefato nuclear em futuro próximo. Bohr ficou chocado. Cartas dele que nunca chegaram a ser enviadas a Heisenberg, divulgadas pela família quase cinquenta anos após sua morte, dão conta disso. Ele que vivia com a família numa Dinamarca ocupada pelos nazistas, em 1943 finalmente transferiu-se para a Inglaterra, e apesar de uma certa desconfiança de Churchill, fez algumas contribuições ao Projeto Manhattan em Los Alamos, nos Estados Unidos. O objetivo secreto passou a ser produzir uma bomba antes que a Alemanha o fizesse. O resultado foram aquelas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki, com centenas de milhares de mortes de civis. Avaliações feitas após o término da Segunda Guerra Mundial concluíram que a Alemanha estava muito longe da capacitação de fazer uma bomba atômica.

Quaisquer que tenham sido os objetivos da visita de Heisenberg a Copenhague em setembro de 1941, permanece até hoje a discussão do aspecto ético e moral da participação de homens de ciência em projetos de armas de destruição em massa, manipulação genética, artefatos bélicos em geral e produtos que ocasionam danos ao meio ambiente. A serviço de governos, países, ideologias ou corporações.

Sobre estas duas importantes figuras da Física moderna gostaria de recomendar três livros.
Física atômica e conhecimento humano, Niels Bohr, edição em português da editora Contraponto
A Parte e o Todo, Werner Heisenberg, edição em português da editora Contraponto
Uncertainty - the life and science of Werner Heisenberg, David C. Cassidy

(25 de fevereiro de 2015)













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