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Pronto. Agora tocou fundo no meu coração. As fazendas do Sul de Minas estão muito ligadas à minha infância, e à história da família. Quanta saudade da Chacrinha de Edgard da Veiga Lion, das Fazendas Santa Inês e Riviera de Feliciano Vieira da Silva, ou da Santa Fé da minha avó. Todas em Machado, Minas Gerais. Ou das muitas histórias que escutei da Fazenda da Capoeirinha, do avô Flávio de Salles Dias, onde meus pais se casaram, em terras de Alfenas.

Cícero Ferraz Cruz, arquiteto natural de Varginha com mestrado na Escola de Engenharia de São Carlos (USP), fez um estudo muito interessante da arquitetura das casas das fazendas mineiras do século XVIII e XIX, tomando o Sul de Minas como amostra. Este estudo virou dissertação de mestrado e um lindo livro publicado pelo IPHAN.

Quando observamos as casas sede das fazendas antigas notamos que há uma grande semelhança no processo construtivo e na disposição de cômodos, locais de acesso livre, sociais e privativos. Era comum, por exemplo, encontrar-se as "alcovas", quartos interiores sem janelas, destinados aos viajantes que pernoitavam nas fazendas, e que ficavam meio segregados da parte social da família, principalmente afastados das donzelas. Quando eu vi, há alguns anos, uma foto da Fazenda Engenho Velho, de José Gonçalves Leite em Paraguaçu-MG (foto de 4/11/1909, no livro de José Hermano Prado) eu tive certeza de que era a Fazenda da Capoeirinha em Alfenas, que eu mesmo havia fotografado em 1972. As fotos eram quase iguais. Depois, observando pequenos detalhes, vi que não eram as mesmas casas. Mas possivelmente havia sido usada a mesma planta, e na mesma situação de terreno.



Cícero traçou um plano ambicioso demais, segundo confessa o próprio autor, que depois tornou-se impossível de ser alcançado. Eram muitas as fazendas coloniais a serem estudadas, e muitas outras foram surgindo. Foi pena, por exemplo, que ele não tenha conseguido estudar a Fazenda do Centro, em Machado, conforme era a expectativa de seu proprietário na época, João Magno Coutinho de Souza Dias. A Fazenda do Centro, que pertenceu ao Capitão-mor Custódio José Dias, e depois a seu filho Dr. Roque Souza Dias e seus descendentes, é uma fazenda emblemática daquela região. Assim como também a Fazenda do Extremo, de meus primos Jorge e Layza.

Comparando a arquitetura das fazendas paulistas com as mineiras, o autor conclui que elas têm pouca coisa em comum. As mineiras nos remetem mais ao estilo português, com suas varandas e com uma característica muito própria, como dizia minha mãe. O curral geralmente fica bem próximo da casa da fazenda. Mesmo não correspondendo ao plano original, as fazendas estudadas são muitas. Gostei particularmente daquelas de Cruzília. Este oratório na foto maravilhosa logo acima é da Fazenda do Mato, em Três Pontas. Chamaram minha atenção também a Fazenda Pedra Negra (Carmo da Cachoeira) e  Fazenda Cachoeira (Conceição dos Ouros).

Mas, confesso, meus amigos, a minha visão não é a do arquiteto. É a do coração.

(Livro Fazendas do Sul de Minas Gerais, Cícero Ferraz Cruz, IPHAN, 2010)
(19 de maio de 2015)


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1 Comment:

  1. Anônimo said...
    Também eu sinto imensa nostalgia ao ver as fazendas antigas

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