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Uma coisa deliciosa, para os que conhecem a cidade do Rio de Janeiro, é roubar ao smartphone, digamos, uma meia hora e ler algumas das Antiqualhas, escritas pelo Dr. Vieira Fazenda, lá por volta dos 1900. Já comentei aqui sobre a Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, e agora quero dizer alguma coisa sobre a nossa Rua da Carioca.
Tive acesso aos volumes digitalizados e disponibilizados por Halley Pacheco de Oliveira e Ana Cristina Güttler.
A Rua da Carioca antes chamou-se Rua do Piolho. Segundo Vieira Fazenda, ainda que o nome pudesse advir dos criadouros que existiam por ali no século XVIII, na realidade o nome provinha de um cidadão, morador da rua, e ativo batalhador de causas advocatícias. Por esta rua passou Tiradentes, no cortejo que o levou da Cadeia (onde hoje fica o prédio da Assembléia, na Rua Primeiro de Março) até o cadafalso, penso que foi colocado onde hoje é a Avenida Presidente Vargas, altura da Rua da Conceição mais ou menos.
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E eu passei pela Rua da Carioca muitas vezes para chegar ao Bar Luiz, onde fizemos em certa época uma despedida regada a muito chope de meu saudoso amigo Abel Caldeira, então de regresso a Portugal. Em uma destas vezes fui conferir se nos fundos de uma centenária loja de instrumentos musicais via-se mesmo a pedra do Morro de Santo Antônio, já que o prédio foi construído colado ao morro. É fato. Conta Vieira Fazenda que a Igreja da Lampadosa, onde Tiradentes teria assistido a última missa antes de ser preso, e perto da Carioca, foi mandada construir pela Irmandade da Lampadosa, que tinha como sede a Igreja do Rosário. Diz ele que pesquisou as devoções portuguesas e nunca encontrou que Nossa Senhora da Lampadosa era esta (na época da construção chamada de Alampadosa). Mas hoje sabe-se que esta devoção deve-se a escravos que vieram da Ilha de Lampedusa e a trouxeram para o Brasil.
A Rua da Carioca nem sempre foi larga como é hoje. Foi preciso refazer o lado direito, que encosta na Rua Uruguaiana, para alargar a rua e permitir a passagem de bondes. As casas foram demolidas e novas construídas, no início do século XX. Coisas do prefeito Pereira Passos, que deu nova cara à cidade do Rio de Janeiro.

Mas a Rua da Carioca está lá até hoje, ligando o Largo da Carioca (e o Mosteiro de Santo Antônio) à Praça Tiradentes (antigo Largo do Rocio, depois conhecido como Campo da Lampadosa e Campo do Polé) que tem uma característica interessante. Apesar de chamar-se hoje Tiradentes tem, no meio da praça, a estátua equestre de D. Pedro I, neto de D. Maria I, que mandou condenar o inconfidente à morte.

(Imagem: Reprodução do quadro de Eduard Hildebrandt - Largo da Carioca, com o Chafariz da Carioca na frente e o Convento de Santo Antônio no fundo - abril de 1844 - Nationalgalerie, Berlin, GDR - Creative Commons)

(26 de março de 2017)

Carlos G. Vieira

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