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Penso que eu nunca havia lido este livro. Assisti ao filme há muitos anos, mas o livro acho que nunca cheguei a ler. Fazendo uma arrumação aqui em casa, de repente ele me apareceu entre outros e fui tomado pela curiosidade. De início fiquei chocado. Pareceu-me um verdadeiro manual do pedófilo, escrito há mais de 60 anos (a primeira edição é de 1955). Depois fui constatando a grande engenhosidade descritiva de Nabokov, e admirei a sua coragem por escrever uma obra destinada a ser sobretudo polêmica ao longo de décadas. Mas, primeiro, queria dizer que o livro é muito bem escrito. Qualquer um pode perceber. Depois, me espanta como um estrangeiro nascido de família abastada em São Petersburgo foi capaz de captar tão bem o espírito da classe média americana. Achei notável o diálogo de Humbert, melhor dizendo a reprodução do diálogo porque o livro é quase inteiramente na primeira pessoa, com a diretora da escola de Beardsley, a senhora Pratt. Dolores, a Lolita do personagem Humbert Humbert, é uma menina terrivelmente esperta e calculista, de treze ou quatorze anos. Ele um homem de meia idade, talvez ali pelos quarenta anos, obcecado com garotinhas. Chega a casar-se com a mãe dela, uma viúva, apenas para ter mais chance de proximidade com a garota. A mãe morre atropelada, e Humbert inicia uma longa viagem pela América com Lolita, hospedando-se nos mais variados motéis e pousadas.
O autor conta em nota ao final do livro (desta edição que tenho em mãos) que este foi inicialmente rejeitado por quatro diferentes editoras americanas. Acharam insuportável o tema, e alguns editores confessaram não terem sequer chegado ao final da leitura. Isto na década de 50 do século XX. Imagino que hoje o autor estaria encarcerado. A primeira edição aconteceu em Paris. O livro é considerado atualmente uma das 50 melhores obras da literatura universal. Não é pouca coisa.
Um último detalhe curioso. Vladimir Nabokov escreveu este livro em inglês, língua que aprendeu ainda em criança, antes de escrever e ler em russo.

(21 de maio de 2018, o mais cruel dos meses para mim)

Carlos G. Vieira

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