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A primeira vez que provei esse prato, típico da culinária do Norte de Portugal, foi em Recife, às margens do Capibaribe. Mas antes disso, já havia degustado muitas vezes o mineiríssimo frango ao molho pardo, acompanhado de angu e couve. Foi este mesmo prato de resistência que comi, no Maria das Tranças, em Belo Horizonte, na companhia de meus amigos cariocas, no dia do meu casamento. Foi aprovado por unanimidade.

Agora, em plena quarentena do Covid-19, dediquei-me a ler esses dois livros do Embaixador Dário Moreira de Castro Alves, já falecido. Aqui no blog havíamos citado, em outra postagem, o excelente Era Lisboa, e chovia. Trata-se de uma trilogia, tomando como base as inúmeras citações nos livros de Eça de Queiroz. Em Era Tormes e amanheciaaparece a famosa galinha de cabidela, também conhecida como arroz de cabidela lá em Cinfães, às margens do Rio Douro. Em Trás-os-Montes (de nossa amiga Regina), diz-se cabidela de galinha, frango ou peru. Há também a cabidela à moda da Ilha Terceira, nos Açores. E, para satisfazer meu amigo Sarmento Nicolau, o termo cabidela parece que vem mesmo do árabe.

Esse livro é um verdadeiro dicionário gastronômico cultural de Eça de Queiroz. Em ordem alfabética, começando por "abóbora" e terminando por "víveres". São quase 600 páginas de citações dos livros de Eça que fazem referência, de alguma forma, à culinária. Principalmente, penso eu, em  A Cidade e as Serras, mas também em Os Maias, A Ilustre Casa de Ramires, A Relíquia, A Tragédia da Rua das Flores, e outros.

O segundo livro, Era Porto e entardecia, fala de vinhos, da minha preferência, e de outras tantas bebidas, algumas exóticas, citadas nos livros de Eça. Por exemplo, o vinho de Colares, aquele que nunca encontrei no Brasil. E um tal Vinho do Porto de 1834, que parece ter sido um vintage de respeito. Mas também da jeropiga, que sempre acreditei ser uma bebida brasileira. Típica também da região norte de Portugal e mencionada no O Crime do Padre Amaro. E existem aqueles cujos nomes fazem referência a personagens fictícios. Como é o caso do vinho do Abade de Carmelinde e do vinho do Abade de Chandim, em A ilustre Casa de Ramires.

Para quem gosta de Eça de Queiroz, é um prato feito. Ou dois.

(7 de julho de 2020, em homenagem à Barbara e Sônia, aniversariantes do dia)

Carlos G. Vieira

Quer ler um pouco mais sobre livros de Eça de Queiroz? Veja aqui mesmo neste Blog:
A Tragédia da Rua das Flores
Carlinhos e Maria Eduarda
Rua das Janelas Verdes
Eça de Queiroz, Emília de Castro
Era Lisboa e chovia
Queijadas de Sintra

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