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     Os inúmeros turistas que passam pela Rua Visconde de Pirajá, esquina de Garcia d'Ávila, no Rio de Janeiro, talvez não entendam a estranha escultura de um corneteiro chegado ao poste (autoria do cartunista Ique Woitschach), com um canhão ao lado, que ali se encontram. Devem achar que tem alguma coisa a ver com o Carnaval, ou com as lojas, logo em frente.

     Essas duas ruas, não por caso, lembram a Bahia. Em Ipanema, logo adiante, temos também as ruas Maria Quitéria e Joana Angélica, duas heroínas da independência do Brasil. A escultura de um personagem, fictício ou não, que passou à História, atesta a afirmativa, acho que de Tom Jobim, de que o Brasil não é para principiantes. O nome do corneteiro é Luís Lopes. Lutou contra os portugueses do general Madeira, nas guerras da independência. Era na cidade do Salvador que ficava o quartel-general das tropas portuguesas, empenhadas em executar as ordens das cortes, que queriam que o Brasil se separasse em várias colônias, cada uma se reportando diretamente a Lisboa. Alguma coisa semelhante ao que aconteceu com a América espanhola. Obviamente, o príncipe D. Pedro, que logo seria coroado imperador, não concordou. E os brasileiros das províncias também não. Os portugueses trataram de retaliar, por terra e por mar. Conseguiram algumas vitórias, que o Almirante Cochrane conseguiu logo reverter. Agora, na Bahia, a coisa ficou brava. Com reforços de tropas e navios vindos de Portugal, a guerra se prolongou. As cortes não estavam dispostas a perder essa colônia de tantas riquezas.

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      Aproveitei estes dias tenebrosos e fui reler o clássico de João Ubaldo Ribeiro, para ver se conseguia entender o Brasil. Deu para clarear um pouco. Depois, pus-me a ler 1822, de Laurentino Gomes. Isso, depois de ler Escravidão, do mesmo autor. Depois dessas leituras, comecei a perceber a enrascada em que nos metemos.

     Mas foi mesmo lendo a história do corneteiro Luís Lopes, na batalha de Pirajá, mais comemorada lá como a independência da Bahia, num 2 de julho de 1823, do que a independência do Brasil, em 7 de setembro, que comprovei que Deus é brasileiro (e o Papa é argentino, como disse Francisco). Estavam os baianos levando a pior na batalha, e o comandante manda que o jovem corneteiro toque retirada. Luís Lopes, possivelmente apavorado, trocou as bolas e tocou avançar cavalaria, degolar. Não havia nenhuma cavalaria disponível, mas os portugueses se assustaram e bateram em retirada. Estava salva a Pátria. Conclusão: o Brasil, realmente, não é para principiantes.

Carlos G. Vieira

(11 de abril de 2021)

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